Sobre este blog

Este blog publica exclusivamente conteúdo original da minha autoria (ver à direita) e serve o único propósito de garantir a minha imortalidade:

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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Papalagui

Este é para mim um livro velho, daqueles que li na pré-adolescência e reli uns poucos anos depois. Por ocasião de me ter lembrado dele para o emprestar a um amigo reli-o hoje ao serão (é um livro curto) e é sem dúvida literatura recomendada.

Este livro é a compilação de um conjunto de textos escritos pelo chefe de uma tribo indígena das ilhas da polinésia, que os escreveu após uma extensa visita que fez à Europa, o mundo "civilizado".

Neles, ele tenta descrever ao seu povo o incompreensível modo de vida do "homem branco" - o Papalagui.

A sua visão da nossa sociedade é muito peculiar por ser uma visão totalmente "de fora". E é impressionante como nós parecemos quando somos vistos de fora...

Hoje estou com vontade de me por todo nu e ir viver para o meio do mato.

domingo, 25 de novembro de 2007

O Quinto Dia

Acabei anteontem de ler as 917 páginas d'"O Quinto Dia", de Frank Schatzing. Já não lia um romance há algum tempo e este era de grande envergadura, do tipo, se te cair em cima de um pé esmaga-te os dedos.

Sem dúvida que este livro deu-me que pensar e gostava de aproveitar o facto de ter este blog para comentá-lo, contudo há sempre aquele problema dos spoilers.

Como não quero spoilar farei apenas uma crítica geral ao texto.

O maior defeito deste livro é a inconsistência na escrita. O autor não tem um estilo próprio, mas antes uma grande variação de estilos, alguns dos quais francamente maus. Esta variação não parece ser propositada, mas mais uma consequência do autor se desleixar a certas alturas e simplesmente não se dar ao trabalho de investir numa boa narrativa. Isto é uma enorme pena porque este livro tem uma história muito boa por detrás, arrisco mesmo dizer uma das melhores histórias que já li. Ainda por cima, há alturas em que o autor revela que tem realmente potencial para escrever muito bem. Encontram-se no texto passagens muito vívidas que nos imergem profundamente na acção. Algumas arrepiam-nos, outras deixam-nos a reflectir, outras deixam-nas extasiados, outras criam-nos uma sensação de grande mistério, outras ainda fascinam-nos porque nos falam de coisas que nunca tínhamos pensado, ou que, por outro lado, nunca tínhamos pensado daquela maneira.

O problema é que de vez em quando somos pontuados por diálogos fraquíssimos, reflexões filosóficas de má qualidade que parecem retiradas do diário de um adolescente, e referências muito frequentes a filmes de hollywood para ajudar a concretizar certas descrições.

O livro, num estilo que se insinua cada vez mais nos romances modernos, está escrito como se fosse um filme; é extremamente visual na descrição e na própria narração - o narrador é quase como uma câmara que vai filmando acontecimentos, o que não é propriamente um defeito, mas mais um estilo que não aprecio muito.

A forma como a história vai sendo contada, por outro lado, está longe do perfeito. Não posso dizer que o autor tenha feito um mau trabalho, porque a história precisa de um grau elevado de contextualização, mas se no princípio foi criada uma atmosfera de mistério e suspense bastante interessante, mais para o fim parece haver de novo um desleixo na forma como as coisas são reveladas.

A história desenrola-se a uma escala mundial e relata eventos que têm repercurssões sérias do ponto de vista político, social, económico, militar entre outros. Se por um lado muitas destas facetas não são exploradas (o que é necessário para que nos foquemos mais na história central), as que são exploradas transmitem muitas vezes ideias ingénuas e inverosímeis da realidade e mais uma vez, muito dignas dos estereótipos de Hollywood. Isto foi das coisas que mais me desiludiu, principalmente porque não melhorou à medida que o livro se aproximava do final.

Não se focando em certos aspectos interessantes do cenário que criou para se concentrar na história principal, por outro lado o autor perde-se em caminhos algo fastidiosos como sejam a tentativa de conferir profundidade aos seus personagens. Encaremo-lo, este livro não é sobre pessoas nem sobre emoções; é sobre uma ideia espantosa que para poder resultar num romance precisa que hajam personagens. No entanto este livro tem muitas personagens - demasiadas. Como a acção se desenrola à escala global, tem personagens de todos os cantos do mundo e o autor aproveita para se espraiar nos pormenores pitorescos dos seus países e culturas, o que nem é muito mau, o problema é que ele insiste em dar um background histórico a grande parte delas, o que não contribui em nada para a história e na verdade não acrescenta nenhum valor ao livro.

A minha última crítica pode ser algo mesquinha, mas não deixa de reflectir a minha opinião. Um livro pode ter, como este, mil páginas, mas não há nada mais importante nele do que a maneira como começa e a maneira como acaba.

No que toca ao começo, a analogia de conhecer uma pessoa funciona perfeitamente: a primeira impressão tem um peso enorme. Por mais que nos consideremos pessoas não superficiais, não conseguimos deixar de julgar uma pessoa nova por aquilo que ela aparenta ser na primeira vez que a conhecemos, e é isso que vai definir por completo a maneira como vamos olhar para ela enquanto a vamos conhecendo. No caso do livro acontece o mesmo: preparo-me para ler um calhamaço do qual não sei nada. O princípio define o ambiente e condiciona quase por completo a predisposição com que me ponho a ler o livro.

Este livro tem um mau começo. É um daqueles começos banais, comerciais, estereotipados, com a agravante de ser demasiado grande e enfastiante.

A importância do final nem preciso de a enaltecer - a maneira como um livro ou filme acaba define praticamente no todo a opinião final com que ficamos dele. O meio pode ter sido uma porcaria, mas um final arrebatador compensa tudo, faz-nos rapidamente esquecer a mediocridade do que está para trás.

O final é a coisa que fica mais marcada na memória, por ser a última e daí a necessidade de acabar em grande.

O final deste livro também não é grande coisa. Diria mesmo que o epílogo é um anticlímax completamente desnecessário, com mais uma daquelas reflexões filosóficas meio adolescentes. Este livro deixou-me por várias vezes num estado de reflexão, quando interrompia a leitura, mas não foi que me aconteceu quando o acabei, o que lamento.

Acabadas as críticas talvez vos tenha deixado com a ideia de que o livro não presta, mas nada podia estar mais longe da verdade. Como referi anteriormente, este livro tem uma ideia central mesmo muito boa (e assustadoramente plausível) que é muito bem desenvolvida e a propósito da qual se retiram reflexões extremamente profundas. Tem descrições muito bem feitas e em particular descreve coisas a que estamos habituados a conceber mas de formas totalmente novas e fascinantes.

Bem, para aguçar mais a vossa curiosidade não posso deixar de revelar algum conteúdo, por isso a partir de agora deixo as coisas por vossa conta e risco.

Para vos ajudar a decidir quando for melhor parar de ler, vou dividir a minha exposição em secções com níveis crescentes de spoilers, começando a partir do próximo parágrafo. Chamo a atenção para o facto de existir um ponto sem retorno, isto é, para quem não estiver mesmo interessado em ler o livro, eu vou eventualmente contar aqui todo o enredo principal. Escusado será dizer que tem muito mais piada se se ler o livro, no entanto tentarei manter o suspense e dar algum impacto à história.

**SPOILERS - NÍVEL 1**

Os sintomas de algo de muito estranho começam a insinuar-se por todo o mundo.

Nas costas sulamericanas ocorrem desaparecimentos misteriosos de pescadores em dias de mar calmo e céu limpo.

Em Vancouver, no Canadá, as excursões para ver baleias não encontram uma única baleia, numa altura do ano em que SEMPRE se viram baleias, porque elas SEMPRE passaram ali no curso da sua migração.

Uma companhia petrolífera sonda o solo submarino com o objectivo de fazer uma plataforma de extracção nos mares da Noruega e encontra lá algo de perturbador. A vertente continental submarina está completamente infestada por biliões de espécimes de um verme novo, totalmente desconhecido da ciência, que possui poderosos maxilares e presas.

O mundo marinho está a sofrer visíveis perturbações que ao parecerem descorrelacionadas passam despercebidas à grande maioria da população, mas que rapidamente crescem em proporções chamando a atenção de vários cientistas e estudiosos por todo o mundo.

Aparentemente, o impacto do homem no meio ambiente está agora a fazer-se sentir nos mares. A extensa poluição dos oceanos, a pesca desenfreada, o aquecimento global, a brutal delapidação dos mares por intervenção humana interferiram no equilíbrio delicado de um ecossistema enorme e extremamente complexo. Estão a ocorrer alterações a grande escala no ventre submarino da Terra e elas não acabam aqui.

**SPOILERS - NÍVEL 2**

Continuo isto noutro dia... ou talvez não continue, logo vejo.