Sobre este blog

Este blog publica exclusivamente conteúdo original da minha autoria (ver à direita) e serve o único propósito de garantir a minha imortalidade:

Google caches WebPages regularly and stores them on its massive servers. In fact, by uploading your thoughts and opinions to the internet, you will forever live on in Google's cache, even after you die, in a sort of "Google Afterlife".
- In Is Google God?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Ocaso

Nas malhas insondáveis da memória vive um monstro sem rosto e sem nome.

Uma estação de comboio.

É velha e feia e suja e tem as lágrimas e a tristeza das partidas cravadas nas lajes gastas do chão. O carril perde-se na planura inóspita e ao fundo, ainda longe, surge a silhueta grosseira de uma locomotiva.

Silêncio.

O vento arrasta as folhas pelo cais deserto e alvoroça a erva num prado distante. O céu está escuro. O relógio da estação marca cinco horas e nove minutos no crepúsculo fustigante de Inverno.

Os carris guincham, doridos, à medida que a máquina se aproxima com um estrépito rápido, rítmico, monótono, fatigante. O comboio abranda com um assobio estridente e detém-se, suspirando de cansaço, e de novo, o silêncio.

Um homem alto com um chapéu preto.

Desce os degraus para fora da carruagem e pousando uma grande mala de cabedal no cais, perde o olhar na solidão da paisagem, num momento que se alonga pelo horizonte que a vista abarca, até ser interrompido pelo apelo angustiado do assobio do comboio, que retoma custosamente a marcha com um martelar metálico e indelicado que fere a quietude da planície mas que rapidamente se dispersa na lonjura.

E de novo um silêncio pacífico, melancólico, banhado por uma brisa suave, quase inaudível, que transporta a apatia do mundo. O homem tira o chapéu preto da cabeça e é esmagado por uma tristeza que lhe surge nas entranhas, que o transborda e que se escoa por entre as lajes cinzentas do cais deserto.

0 Comments: